Por um turismo mais consciente

Logo na saída do aeroporto de El Nido percebemos que a nossa estadia seria diferente de todas até então.

Havia um trânsito caótico, com tuk tuks, vans e carros disputando espaço, sons de buzinas e gritos, pessoas circulando às margens da estrada, cães vira-latas procurando comida, galos e galinhas ciscando nas frente das casas. E o pano de fundo diss tudo eram comunidades extremamente simples e precárias.

Já vimos esse cenário tanto no Brasil como em outros países (Jamaica, África do Sul, Argentina, só para citar alguns).

Porém, em El Nido, a pobreza era acentuada pela aparente desconexão (talvez indiferença) dos turistas (a maioria jovens europeus) com a realidade ao redor. Quase ninguém se preocupava em interagir com os moradores, tentando falar palavras básicas em filipino (como obrigado ou bom dia). E esse descaso se estendia aos demais turistas, incluindo a gente.

Quando fomos ver o pôr do sol em um ponto concorrido, conseguimos uma mesa baixinha na areia onde nos sentamos agachados ao redor. Para nossa surpresa, um rapaz se sentou nela como se não estivéssemos lá e, quando partiram, os seus colegas deixaram cascas de banana sobre ela sem dizer uma palavra. Era como se fôssemos invisíveis. Surreal.

Aqui foi a primeira vez que eu e a Lu refletimos com mais profundidade sobre o impacto do turismo de massa, impulsionado pelas redes sociais, em locais sem uma infraestrutura básica para atender essa demanda alucinada e, muitas vezes, desrespeitosa.

Hordas de turistas em busca de um clique criam aglomerações, sujeira, e stress. Por outro lado, uma crescente população, que, em busca de oportunidades de trabalho, migram para esses lugares se sujeitando a condições degradantes de trabalho.

Para piorar, a sensação é de que esses lugares tem um de prazo de validade até algum(a) influencer escolher o próximo destino do momento.

Infelizmente, o turismo no Brasil também sofre desse mesmo mal, onde alguns lugares se tornaram ilhas de manipulação para atrair turistas.

Um dos exemplos é São Miguel dos Milagres, onde passamos a nossa lua de mel em 2009. A experiência foi tão especial que criamos laços com as pessoas e o local como um todo. Decidimos, então, voltar a cada três ou quatro anos para revê-los.

Nesse período, vimos a transformação de Milagres com o claro objetivo de fazer os turistas gastarem mais dinheiro com quinquilharias e paisagens montadas.

Na nossa viagem mais recente para lá, em janeiro de 2024, ficamos chocados com a proliferação dos supostos condomínios de luxo com lixo acumulado em suas portas. Afinal, o serviço de coleta compreensivelmente é incapaz de dar conta de tamanha sujeira.

Isso sem falar na barreira de corais degradada pelos barcos a motor repletos de turistas alucinados para uma foto instagramável.

Não tenho nada contra o turismo de massa desde que os destinos estejam minimamente preparados e exista uma troca entre os turistas e a comunidade local. Eu mesmo me apaixonei por Natal em uma viagem da CVC com os meus pais quando tinha 13 anos por esse motivo.

Cabe a nós mudarmos esse cenário com um turismo mais consciente, pelo qual valorizamos as comunidades locais, adotamos um comportamento sustentável e, principalmente, interagimos com as pessoas, criando uma relação de troca e aprendizado mútuo.

A ideia é viajar com propósito para conhecer a si mesmo e conquistar habilidades que possam ser úteis para o mundo. Só assim conseguiremos criar a melhor versão de nós mesmos e do planeta que queremos deixar para as futuras gerações.

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